Nesse mês de dezembro, o Instituto Moreira Salles apresenta a Mostra Revisões 2018, composta por lançamentos e obras consagradas. Os títulos selecionados dialogam, de maneiras distintas, com um impulso de reapropriação presente no cinema ao longo deste ano. A programação, que inclui produções brasileiras e internacionais, será exibida no IMS Paulista até 30 de dezembro.



P R O G R A M A Ç Ã O


quinta, 13 de dezembro

14h00 Infiltrado na Klan
19h00 Shaft
21h15 Infiltrado na Klan


sexta, 14 de dezembro

14h00 Infiltrado na Klan
19h00 Halloween: a noite do terror
21h15 Infiltrado na Klan


sábado, 15 de dezembro

14h00 Infiltrado na Klan
21h15 Infiltrado na Klan


domingo, 16 de dezembro

14h Infiltrado na Klan
19h Shaft


terça, 18 de dezembro

14h Infiltrado na Klan
17h O processo (Maria Augusta Ramos)
20h O processo (Sergei Loznitsa)


quarta, 19 de dezembro

14h00 Infiltrado na Klan
19h00 Pixote: a lei do mais fraco
21h30 Halloween: a noite do terror


quinta, 20 de dezembro

16h Infiltrado na Klan


sexta, 21 de dezembro

16h Infiltrado na Klan


sábado, 22 de dezembro

16h00 Infiltrado na Klan
19h00 Central do Brasil
21h15 Infiltrado na Klan


domingo, 23 de dezembro

16h Infiltrado na Klan


quarta, 26 de dezembro

16h Infiltrado na Klan
19h Halloween: a noite do terror


quinta, 27 de dezembro

16h Infiltrado na Klan
19h Halloween: a noite do terror


sexta, 28 de dezembro

16h Infiltrado na Klan
19h Halloween: a noite do terror


sábado, 29 de dezembro

16h Infiltrado na Klan
19h Halloween: a noite do terror


domingo, 30 de dezembro

16h Infiltrado na Klan



S I N O P S E S


Central do Brasil
Walter Salles | Brasil | 1998, 113’, cópia restaurada em DCP
Dora escreve cartas na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para pessoas analfabetas. Quando uma de suas clientes é atropelada, seu filho Josué, de nove anos, fica perdido na estação. A contragosto, Dora acolhe o garoto e acaba acompanhando-o até o interior do Nordeste, à procura do pai.“Central foi lançado em 1998, mas a ideia do filme tomou corpo pouco antes de rodarmos Terra estrangeira, em 1995, ainda sob o impacto do desgoverno Collor. Além do caos econômico, o país vivia uma profunda crise de identidade, e a produção cinematográfica tinha caído a zero”, comentou Walter Salles em entrevista à Folha de S.Paulo publicada em julho deste ano. “O recomeço do cinema, naquele momento, foi marcado pelo desejo de reencontrar um reflexo brasileiro na tela, de dar voz a um não dito que estava represado. As cartas que pontuam o filme respondem a essa percepção. A busca de Josué pelo pai é também a busca por um país. Já a trajetória de Dora no filme é claramente um processo de ressensibilização, após 25 anos de ditadura militar e dos anos Collor.” No Festival de Berlim, em 1998, Central do Brasil foi vencedor do prêmio de Melhor Filme, Urso de Ouro, e Fernanda Montenegro, do de Melhor Atriz, Urso de Prata. No ano seguinte, o filme ainda levaria o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro. Vinte anos após sua estreia, o filme foi restaurado pelo laboratório francês Éclair com o apoio do Centro Nacional de Cinema Francês (CNC), da VideoFilmes e da Mact Productions.


Halloween: a noite do terror
John Carpenter | EUA | 1978, 87', DCP
Quinze anos depois de assassinar sua irmã na noite de Halloween de 1963, Michael Myers escapa de um hospital psiquiátrico e retorna para a pequena cidade de Haddonfield, onde vive a jovem Laurie Strode (Jamie Lee Curtis). Halloween: a noite do terror, de John Carpenter, teve sua estreia na noite de 25 de outubro de 1978. Ao longo de 40 anos, arrecadou o equivalente a 2000% do seu orçamento original de produção, tornando-se o filme independente de terror mais bem-sucedido do cinema americano. Foram produzidos mais dez longas dentro da mesma franquia, sete deles com Jamie Lee Curtis, que está presente na versão mais recente, lançada em 2018 e dirigida por David Gordon Green.


Pixote: a lei do mais fraco
Hector Babenco | Brasil | 1981, 128’, cópia restaurada em DCP
Vivendo a dura realidade dos menores carentes em um reformatório de São Paulo e revoltados com as injustiças dos administradores da instituição, quatro crianças fogem e passam a conviver com uma prostituta, envolvendo-se com traficantes de drogas e trapaceiros. “Acho que naquela época existia uma indignação muito grande pelas contradições sociais expostas que havia em São Paulo. E o que mais me incomodava era a total anestesia dos meios de comunicação, das pessoas pensantes, dos amigos jornalistas, cineastas, sociólogos, enfim, as pessoas que eu frequentava… Era um assunto no qual não se tocava e, quando se tocava, era sociologicamente”, comentou Hector Babenco em entrevista a Drauzio Varella. “Um dia eu fui à Febem no Tatuapé com um amigo meu fazer umas fotografias e me horrorizei com o que vi. As crianças vinham falar comigo com as mãos para trás e a cabeça baixa, que era já uma estruturação corporal policialesca, de você, culpado, querer pedir perdão ao outro. E eu dei meu endereço, meu telefone pra alguém e sei que, uma semana depois, me ligou um garoto e disse: ‘Olha, a gente fugiu da Febem, estamos aqui uns 20 e queremos passar para conversar com você’. Aí vieram ao meu escritório, eram uns oito ou nove. Eu os levei pra comer um hambúrguer, eles começaram a me contar histórias e eu disse: tenho que fazer um filme dessa gente.” Esta cópia foi restaurada pelo World Cinema Project, que faz parte da The Film Foundation, e pela Cinemateca de Bolonha, no laboratório L’Immagine Ritrovata, em colaboração com HB Filmes, Cinemateca Brasileira e JLS Facilitações Sonoras. A restauração faz parte do projeto Memória Hector Babenco, da HB Filmes, que visa a recuperar toda a obra do cineasta, falecido em 2016.


O processo
Sergei Loznitsa | Holanda | 2018, 125', DCP
Moscou, União Soviética, 1930. Salão dos pilares da Central Sindical. Um grupo de economistas e engenheiros do alto escalão é julgado sob a acusação de tramar um golpe contra o governo soviético. A alegação: eles teriam feito um pacto secreto com o primeiro-ministro francês, Raymond Poincaré, com o objetivo de destruir o poder soviético e restaurar o capitalismo. Todas as acusações são fabricadas, e os acusados são forçados a confessar crimes que nunca cometeram. O tribunal determina a pena de morte. Imagens de arquivo reconstroem um dos primeiros juízos dos chamados Processos de Moscou. Uma série de julgamentos, apresentados como espetáculo, que condenaram os opositores de Joseph Stálin. “Decidi fazer o filme de maneira a dar aos espectadores a oportunidade de passar duas horas na URSS em 1930: ver e experimentar o momento, quando a máquina do terror do Estado, criada por Stálin, foi posta em ação. Minha intenção era reconstruir o julgamento etapa por etapa. Nós restauramos e utilizamos todo o som que foi gravado em 1930. O único comentário que eu me permiti fazer em todo o filme aparece bem no final. Preciso desse comentário para dizer a verdade, já que é impossível apreender ela em qualquer outro episódio deste documentário.” (Declaração do diretor extraída do site do Festival de Veneza.) Três filmes de Sergei Loznitsa estrearam nos principais festivais de cinema em 2018: Donbass foi exibido em Cannes, Dia da vitória, em Berlim, e O processo teve sua estreia em Veneza.


O processo
Maria Augusta Ramos | Brasil, Alemanha e Holanda | 2018, 139’, DCP
Em cerca de 450 horas de material filmado, Maria Augusta Ramos acompanhou o processo que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Concentrada em sua defesa, formada por José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, a diretora faz um estudo particular dos bastidores desse momento histórico, ao longo de reuniões e discussões no Senado Federal, mas também por meio das expressões de seus protagonistas e dos defensores do impeachment. Em entrevista à Deutsche Welle, ao ser perguntada sobre a abordagem do ponto de vista da defesa de Dilma Rousseff, Maria Augusta respondeu: “Não é que seja a perspectiva da defesa: eu acompanho muito mais os bastidores da defesa porque a defesa me deu esse acesso. Eu tive acesso a reuniões da liderança da esquerda, da minoria que era contra o impeachment. A oposição não me deu esse acesso. Se tivesse dado, eu certamente teria filmado mais. Mas eu acho que era importante, sim, apresentar o argumento da direita, o argumento pró-impeachment. Para expor isso, eu escolhi, por exemplo, o senador Cássio Cunha Lima, que tem uma lógica de argumentação inteligente, ou que, pelo menos, faz sentido. Também a advogada Janaína Paschoal, que, independentemente de você concordar ou discordar dela, teve um papel essencial no impeachment. Essas pessoas são ouvidas e contempladas no filme, mas, sem dúvida, eu tive muito mais acesso à perspectiva da esquerda.”


Shaft
Gordon Parks | EUA | 1971, 100', Arquivo Digital
O detetive John Shaft é contratado por um chefe do crime de Nova York para encontrar sua filha sequestrada. O roteiro foi adaptado a partir de um romance de Ernest Tidyman. O protagonista do livro não é negro, e a decisão de chamar Richard Roundtree para interpretar Shaft foi de Gordon Parks. O filme foi um sucesso e um dos primeiros títulos do movimento conhecido como blaxploitation. “O blaxploitation é um cinema que responde ao seu tempo, um gênero composto por filmes que tiram os negros dos papéis coadjuvantes de serviçais e idealizam a figura do herói. Homens (Richard Roundtree, Melvin Van Peebles) e mulheres (Tamara Dobson, Pam Grier) gostosos, desejados, atrevidos, que flertam, mergulham ou trabalham com a lei e a marginalidade. Personagens reflexo de uma romantização da inversão do status quo: os policiais, ponta final do iceberg de opressão, são os mais espezinhados noblaxploitation”, escreveu Heitor Augusto sobre o gênero em seu site Urso de Lata.


Infiltrado na Klan
Spike Lee | EUA | 2018, 135’, DCP
Em 1978, Ron Stallworth, primeiro policial negro de Colorado Springs, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, e quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial, seu colega branco e judeu, em seu lugar. Infiltrado na Klan se baseia numa história real, relatada por Ron Stallworth no livro Black Klansman. Spike Lee foi apresentado à história por Jordan Peele, diretor de Corra! (2017) e um dos produtores do filme: “Eles [Peele e os coprodutores] adquiriram os direitos do livro e sentiam que precisava de um toque. E foi isso que eu fiz. Fiquei muito grato pela oportunidade, porque nunca havia ouvido falar em Stallworth”, contou Lee à revista Rolling Stone. Apesar de se passar na década de 1970, o filme tanto retoma o passado americano, sobretudo nas menções ao filme O nascimento de uma nação, de D. W. Griffith, quanto o presente, com menções diretas ao atual presidente, Donald Trump. Cate Blanchett, presidente do júri do Festival de Cannes em 2018, chegou a afirmar que o filme seria essencialmente sobre uma crise americana, ao que o diretor declarou: “O que eu acho que ela deixou escapar, e que os outros jurados deixaram também – e não digo isso porque não recebi a Palma de Ouro – é que não é apenas sobre os Estados Unidos da América. Isso está acontecendo por toda a Europa: Grã-Bretanha, França, Itália, o crescimento dos neonazis na Alemanha. Eu queria que as pessoas entendessem isso. Essa ascensão de grupos fascistas de direita não é apenas um fenômeno americano.” Nesta edição do Festival de Cannes, Infiltrado na Klan recebeu o Grande Prêmio do Júri.



S E R V I Ç O


Mostra de Cinema Revisões 2018
até 30 de dezembro de 2018

IMS Paulista
Av. Paulista, 2.424 (próximo as estações Paulista e Consolação do metrô)
Ingressos: para Infiltrado na Klan, Halloween e O processo (de Maria Augusta Ramos): terça a quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) e sexta a domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia); para os demais filmes: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)