A pauta da participação feminina nunca teve tanto destaque na sociedade. O país e o mundo vivem momentos de grandes debates e mobilizações em relação aos direitos das mulheres, e diversos protestos e campanhas mostram a importância da luta de igualdade de gênero nas mais variadas esferas.
Em harmonia com o ressurgimento das discussões sobre o tema, o Canal Brasil exibe, pelo terceiro ano consecutivo, a Mostra Cine-Delas, reforçando a inserção feminil em funções antes dominadas pelos homens, e dando a voz e vez a algumas das nossas grandes cineastas que tiveram e ainda têm papel fundamental na história do cinema brasileiro. Até março – mês que abriga o Dia Internacional da Mulher –, aos sábados e às segundas-feiras, o canal traz uma película assinada por uma diretora brasileira, das mais diversas naturalidades e sotaques, compondo um mosaico plural da nossa produção – e de nossas realizadoras.
A exibição de cada obra será acompanhada de um bate-papo entre a diretora responsável pelo título e duas outras cineastas, abordando questões como sororidade, exposição do corpo feminino no cinema, tabu da sexualidade e representatividade, entre outros.
Vida de Menina (2004) (103’) Direção: Helena Solberg – Ludmila Dayer, Daniela Escobar, Dalton Vigh, Camilo Bevilacqua, dentre outros, no primeiro longa-metragem de ficção de Helena Solberg, cineasta responsável pelo premiado documentário Carmem Miranda: Bananas Is My Business (1994). Grande vencedor do Festival de Gramado de 2004 – seis Kikitos: melhor filme, fotografia, direção de arte, roteiro, trilha sonora e júri popular –, o longa-metragem é baseado no livro-diário Minha Vida de Menina, de Alice Dayrell, uma descendente de ingleses que viveu em Diamantina (MG), no final do século 19. Sob o pseudônimo de Helena Morley, Alice escreveu, a partir dos 13 anos, relatos de sua infância que impressionam pelo estilo apurado e pela perspicácia.
Helena Morley (Ludmila Dayer) é uma menina magra, desengonçada e sardenta que se acha feia. Sua distração é escrever no diário os acontecimentos que se desdobram pela Diamantina do século 19. Na época, o ouro já não é mais abundante e o Brasil acaba de se tornar uma república. Sua família leva uma vida difícil por conta do pai sonhador (Dalton Vigh), que ainda espera encontrar o valioso metal. Em suas anotações, Helena debocha e desmascara as pretensas virtudes alheias, conta seu dia-a-dia, as aulas na escola, as discussões entre os pais e seus problemas de menina. Busca, assim, a liberdade individual e sua identidade. A jovem encontra na avó (Maria de Sá) uma grande aliada e ela lhe concede certas regalias que as outras crianças não têm. Esse laço de amizade torna-se a espinha dorsal do roteiro, dando espaço a diversos coadjuvantes que vêm colorir as crônicas da vida da garota.
segunda, dia 12/02, à meia-noite e quinze
As Alegres Comadres (2003) Direção: Leila Hipólito – O primeiro longa-metragem da diretora Leila Hipólito – do premiado curta Decisão (1998) – é uma adaptação da comédia As Alegres Comadres de Windsor (1600), de William Shakespeare, transposta para a cidade de Tiradentes (MG) do século XIX. O filme teve o acompanhamento de Cecily Berry, diretora da Royal Shakespeare Company, que auxiliou na pesquisa sobre a peça teatral na qual foi baseado. No elenco, Zezé Polessa, Elisa Lucinda, Guilherme Karam, Ernani Moraes, Chico Diaz e Milton Gonçalves.
Em pleno século 19, o falido ex-militar português João Fausto (Guilherme Karam) chega a Tiradentes (MG) com seus comparsas, Pistola (Babú Santana) e Luís (Felipe Rocha), e usa seu status de ex-membro da corte do imperador para se aproveitar da burguesia local. Fausto decide seduzir duas ricas esposas, a Sra. Lima (Zezé Polessa) e a Sra. Rocha (Elisa Lucinda), com a intenção de roubá-las. Ao descobrirem o plano, as comadres tramam uma divertida vingança contra o aproveitador. Em paralelo, o ciumento Sr. Rocha (Ernani Moraes) persegue Fausto sem saber da honestidade da esposa. Para desmascarar a Sra. Rocha, o furioso marido mobiliza os amigos, inclusive o confiante Sr. Lima (Edwin Luise), que está mais preocupado em casar a filha. Concorrem pela mão da bela Ana Lima (Talita Castro) três pretendentes: o rico Sr. Silva (Rafael Primo), favorito do Sr. Lima; Dr. Caius (Chico Diaz), médico francês, preferido pela Sra. Lima; e o aristocrata Franco (Daniel Del Sarto).
Sábado, dia 17/02, às 22h05 e segunda, dia 19/02, à meia-noite e quinze
Jonas e o Circo sem Lona (2017) (82’) Direção: Paula Gomes – Paula Gomes começou a procurar circos itinerantes pela região metropolitana de Salvador para produzir um documentário em 2006. Durante a fase de pesquisa para o roteiro, deparou-se com a trajetória inspiradora de um menino esforçado para construir seu próprio picadeiro com muito esforço e basicamente nenhum recurso. A labuta do jovem atraiu rapidamente o olhar da diretora, e ela abandou a ideia inicial para dedicar-se a contar exclusivamente essa história. O longa-metragem passou por mais de 30 mostras e conquistou nove láureas em eventos no Brasil e em países como México, Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Espanha e Holanda – com destaque para o prêmio do público no Festival de Toulouse (França).
Jonas é um menino de 13 anos nascido em uma família circense. A arte, comumente passada entre as gerações, é, curiosamente, um entrave em sua dedicação para montar o próprio picadeiro – sua mãe abandonou as arenas e lonas devido às dificuldades financeiras e procurou um ofício mais convencional para sustentar os filhos. Além do repúdio da matriarca, ele ainda luta com bravura para montar seus espetáculos, apresentações produzidas com quase nenhum recurso financeiro, espaços limitados ao quintal enlameado da casa onde mora e artistas de pouco talento, treinados por ele mesmo após a escola. Mesmo contra todas essas adversidades, ele sai pelas ruas a divulgar para seu respeitável público as imperdíveis sessões com palhaços, trapezistas e esquetes de humor.
Focando na personalidade aguerrida do rapaz, a direção mostra as batalhas enfrentadas precocemente na vida dele. Há uma defesa da inocência da infância e uma indagação sobre o modelo educacional e de criação familiar – a professora o tem como um aluno irresponsável, mas ele demonstra extrema dedicação na realização de seus espetáculos, cuidando de cada detalhe de seu pequeno circo. Como é tradicional de sua idade, ele questiona a formação dada pela mãe, briga para seguir no picadeiro com um tio e manifesta sua infelicidade ao ser obrigado a ficar em uma sala de aula. Sem recorrer a idealizações sobre o protagonista, o filme faz um retrato humano dos habitantes de uma região e de um menino em busca do sonho de levar a espetacular arte do circo para os quatro cantos do mundo.
Sábado, dia 24/02, às 22h e segunda, dia 26/02, à meia-noite e quinze